A Proclamação da Independência Espiritual

Dom Oséias, juntamente com seu herdeiro, Dom Miguel, caminhava pelas terras de Campinas, pensativo, olhos mirando o horizonte, mergulhado em suas reflexões. Quando de repe…

— Majestade! Majestade! - Chamava o comandante Belicino.

— Sim, meu caro, pode falar.

— É agora ou nunca. O que faremos?! Corremos ou degolamos suas cabeças?

— Nessas minhas reflex…

— Mas agora não é hora de refletir! - Disse Belicino, esbaforido.

— Bem, cheguei à conclus…

— Que conclusão? Já estou com a espada em mãos, é só dar a ordem!

Dom Oséias respirou profundamente ante as interrupções de seu preclaro amigo e comandante do exército e virou-se com olhos sérios e efusivos.

— Peço-lhe, por ordem real, que silencie para que eu possa falar ou eu mesmo fecho-lhe a matraca.

Aturdido e incomodado com a ordem recebida, espalmou as mãos e rigidamente se colocou em posição de sentido e esgoelou:

— Sim, vossa majestade.

Sorridente, Dom Oséias prosseguiu.

— Muito me atormenta a situação de nosso país perante a coroa deste mundo. As cobranças feitas pesam nas almas de nosso povo, por isso, tenho refletido muito sobre os próximos passos…

— Mas, Majestade, os soldados estão para chegar em apenas alguns dias. Se dará uma ordem de defesa, deve ser agora!

O velho e sábio regente olhou para Dom Miguel, para o comandante Belicino e a multidão que estava atenta à sua palavra, em pé, a alguns metros de distância, e disse:

— Sim, por isso busquei inspiração nos ensinamentos do Cristo, o Salvador, e após intensa e profunda visão espiritual, percebi Sua Ordem Suprema: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos”. — Após essas palavras, respirou num grande hausto e projetou sua voz para que os presentes escutassem. — Espalhem a todos! Hoje proclamo a maior das independências, a Independência Espiritual!

Todos efusivamente começaram a aplaudir e a gritar de alegria pelo declarado. Homens e mulheres se prontificaram para a ação, enquanto o comandante grita:

— É guerra! Vamos para a guerra!

Num rasante, Dom Oséias corta-o, dizendo:

— Sim! Vamos para a guerra, mas não a de corpos, que vocês conhecem, não! Vamos para a de almas. — E olhando para o seu herdeiro, falou — Vamos ao trabalho!

Ambos seguiram, prontos para conquistar os corações e propagar a mensagem do Amor Divino exemplificado pelo Cristo.

Começo este artigo com um diálogo fictício, inspirado em evento marcante ocorrido em Campinas/SP, no dia 7 de setembro de 1959: a Proclamação do Novo Mandamento de Jesus, feita pelo saudoso Irmão Alziro  Zarur (1914-1979). Materialmente, o cenário retratado na pequena história não ocorreu, mas isto não significa que não podemos fazer parte da mudança de atitude que ela sugere para nossa autonomia espiritual.

Nossa busca pela independência é constante, mas qual é de fato a efetiva? Reflitamos sobre, pois, independente (literalmente) da conquista que tenhamos alcançado nos dias atuais, esta de alguma forma acaba por nos colocar novamente em ignorante dependência. Mas, existe uma que ainda não foi integralmente buscada, pelo menos não por todos, e é a respeito desta que discorremos aqui hoje, a Independência Espiritual, que somente a vivência do Amor do Cristo (João, 13:34 e 35) pode nos proporcionar. Agora, ser independente não significa deixar de ser dependente.

Jesus declara em Seu Evangelho: “O Pai me ama, pois Eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém me tira minha vida de mim, pelo contrário. Eu espontaneamente a ofereço. E tenho Autoridade para entregar e também para reavê-la. E este mandato recebi de meu Pai”. (João, 10:17 e 18)

Perceberam a diferença? O Cristo é consciente de que depende da Vontade de Deus para cumprir com a Sua Missão, mas isso O torna livre espiritualmente. 

“Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e, da mesma maneira, também o que é chamado, sendo livre, servo é de Cristo.” (Paulo Apóstolo, I Coríntios, 7:22)

O Irmão Paiva Netto ensina-nos que “Jesus é Aquele que abrange tudo; Quem, por força do Espírito, se libertou da ignorância, uma vez que descobriu e aceitou a Verdade de Deus (João, 8:32) e por ela se tornou livre” (destaque da obra de sua autoria Jesus, a Dor e a Origem de Sua Autoridade – O Poder do Cristo em nós [2014]).

Liberdade não é a conquista de um direito negado, mas saber que já a possui e ter consciência da responsabilidade assumida com Deus.

Previous
Previous

O advento da Profecia e a nossa vigilância em Deus — Espírito e discernimento (Parte 2)

Next
Next

O advento da Profecia e a nossa vigilância em Deus (Parte 1)