Reflexões quanto à Fé

O semeador (1888) — GOGH, Vincent van (1853-90)

“Alguém dirá: Tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” (Epístola de Tiago 2:18)

Às vezes, quando pensamos na fé, nos indagamos sobre sua realidade, como se ela dependesse de algo externo para nos provar sua existência. A verdadeira questão não é se temos fé em algo externo, mas se temos fé e como provamos isso a nós mesmos, e somente a nós.

Fé, da mesma forma que qualquer outro termo, tem uma dualidade definida por nossas intenções. Tomemos, por exemplo, a abordagem de externo e interno. Se você está com fome e tem seu pai que sai para buscar algo para você comer ou até cozinhar, você simplesmente acredita que ele vai cozinhar ou trará algo que lhe saciará a fome. Essa é a sua fé em seu pai. Agora, se você tem um desafio a enfrentar e não acredita em si mesmo para superá-lo, falta a fé em si próprio. O problema é quando nos confundimos colocando sobre os outros o ônus de provar a nossa fé e quando outros colocam em nós o ônus de provar a sua própria fé, confundindo o externo com o interno.

Lembremo-nos de como é o trabalho do agricultor. Ele fazia a sua parte plantando sementes e confiando em Deus — ou seja, tendo fé — para que colhesse o semeado. Mesmo hoje, com todas as descobertas da ciência e da tecnologia, sabendo quase que exatamente o que fazer para manter o solo saudável e depois colher os frutos do seu trabalho, é preciso ter fé em você, nos seus funcionários, em Deus, ou seja, ter consciência de que você e seus funcionários fizeram tudo o que era espiritualmente e humanamente possível e que Deus providenciará o clima propício à sua colheita. Mesmo que isso também seja uma consequência da soma das ações humanas, ainda para aquele período e tempo preciso, você precisa crer que tudo funcionará de acordo com o que você espera. Do contrário, entender o porquê, acreditando em um propósito para aquilo, se é algo profundo e significativo ou superficial e maléfico. Ainda assim, tem um propósito.

No final, você tem que acreditar em algo, e isso já é uma fé “como um grão de mostarda”, com a qual, segundo Jesus, estará apto para dizer a este monte: “Passa daqui para acolá — e há de passar; nada será impossível.” (Evangelho do Cristo, segundo Mateus 17:20).

Nesses exemplos, há uma pegadinha importante: você tem que trabalhar. Sim, precisa fazer a sua parte. Nem as árvores ficam inativas, elas também possuem o seu trabalho natural e Deus em Suas Leis Divinas provê o sustento delas. É como ensinava o Irmão Alziro Zarur: “Faze a tua parte, que Deus fará a parte Dele”.

O que quero trazer neste artigo é a compreensão de um conceito do Irmão Paiva Netto: a Fé Realizante, ou seja, Fé + Boas Obras. Faz parte dos Quatro Graus Iniciáticos da Fé, trazidos pela Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, para nos mostrar como podemos manifestar a nossa Fé e em que condições está a nossa mentalidade para a sua compreensão. São elas:

  1. Raciocinada (Allan Kardec);

  2. Raciocinante (Alziro Zarur);

  3. Realizante (Paiva Netto);

  4. Divinizante (Paiva Netto).

Caminhos práticos da fé

Não podemos medir nossa Fé como uma coisa quantificável, ainda não temos os meios certos, mas podemos olhar através de outras lentes em que grau correspondente nos encontramos. Voltando ao exemplo do fazendeiro, que significaria cada grau na manifestação da sua fé? (1) O pensamento e a percepção da necessidade de trabalhar; (2) A reflexão e abertura à intuição dos Bons Espíritos sobre como trabalhar de forma mais eficaz afiando as suas ferramentas e separando as boas sementes; (3) Indo trabalhar e plantando as sementes, fazendo a sua parte, confiando que Deus fará a Dele; (4) Conhecer e compreender a vontade e o propósito de Deus para sua obra na participação no Planejamento Divino para instituir o Seu Amor (Jesus, 13:34 e 35).

Através disso, veremos que no final “Fé é o próprio Deus. Fé é igual a Deus”, como ensinava o Irmão Zarur.

Fé, Boas Obras e o medo da “morte”

Quem tem boas obras não tem o que temer, porque a fé é sustentada pelo trabalho. E como definir o medo? Para começar, digamos que o medo é a incerteza produzida pela certeza da inação, quando sabíamos que poderíamos fazer algo e decidimos não fazê-lo, porque temíamos um possível, não certo, resultado agravante à nossa pessoa ou às que amamos.

Vejamos o nosso próprio dia a dia, quando trabalhamos com Dignidade, Honestidade, Perseverança e Boa Vontade. Fiéis a nós mesmos e ao que acreditamos. Não temos o que temer, pois sabemos que fizemos tudo o que era espiritual e materialmente possível, ou seja, conhecer nossos limites, mas decidir ir além.

À medida que o tempo passa, nós nos vemos em uma situação próxima aos fenômenos de transição para o Mundo Espiritual, ou seja, a morte. Vamos enfrentar nossa consciência e analisar o que fizemos ou não. O medo que podemos sentir da “morte” é na verdade um temor de enfrentar e voltar para Deus, nus moralmente, em que nossas provas para defesa são nossas ações e inações.

Se pensarmos bem, não tememos os fenômenos da morte, tememos o enfrentamento de nossa própria consciência com Deus, que é o Valor Mais Elevado do Universo. Tememos a nudez de nossos pensamentos, palavras e ações, sem filtro, alguém ou algo para culpar. Perdendo a oportunidade de andar “fielmente com Deus” (Gênesis, 48:15) como Adão e Eva perderam ao se encontrarem “nus” diante de Deus. Assunto que vale discutirmos numa outra oportunidade.

Termino este artigo com uma citação do Irmão Paiva em seu ebook A Esperança não morre nunca (2021): A Fé é o combustível das Boas Obras; portanto, do trabalho”.

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