Luz e Sombra (Parte 1): Entendendo suas relações para uma vida melhor

Luz e Sombra são palavras que como outras evocam uma multiplicidade de ideias e conceitos. Eles já são bastante discutidos no campo da Psicologia, particularmente na psicanálise. Não quero me estender muito nesse debate, mas trago essa referência para o que estou disposto a discutir. Para você se familiarizar mais com o assunto, sugiro a leitura de autores que se aprofundam nele. Destaco, entre outros, Carl Gustav Jung e Robert Johnson. Sugiro até mesmo a leitura de um que se desvia deste campo: Jun'ichirō Tanizaki, mas tenha em mente a necessária leitura crítica.

Robert Johnson, em seu livro “Owning Your Own Shadow”, esclarece que:

— “A sombra é aquela parte de nós que não conseguimos ver ou conhecer. (...) A sombra é aquilo que não entrou adequadamente na consciência [isto é, luz]”.

A partir disso, entendemos que a sombra é aquilo que não conseguimos ver em nós mesmos ou compreender conscientemente. Poderíamos até dizer que é isso que escolhemos ou não ignorar, e quando surge de nossa psique é a materialização da ignorância. E o que ignoramos? São tantas coisas…

Vejamos a Luz. Apontando o que é a sua sombra, compreendemos o que seria a luz, porque uma define a outra. Você só pode ver a Luz se ela estiver cercada pela Sombra; e só pode perceber a escuridão se houver algo brilhante.

A suposição óbvia é a própria consciência, e está certa. Sendo sombra o que não aceitamos em nosso consciente, luz seria o que aceitamos.

Agora, numa argumentação em prosa, e até científica, podemos entender a Luz como o que ilumina o nosso caminho ao mesmo tempo em que projeta sombra nos cantos. Você pode ver onde estou querendo chegar? Luz e Sombra não são boas nem más, como o senso comum tenta explicar. Elas são, na verdade, instrumentos para o propósito que queremos manifestar. Outra analogia comum com a luz seria a inteligência, já que a sombra é a ignorância. Mas, como vemos no Apocalipse de Jesus, segundo João, 6:13:

— e as estrelas do céu caíram na terra, como figos caem de uma figueira quando sacudidos por um vento forte.

O que isso significa? O Irmão Paiva Netto argumenta que essas estrelas representam aqueles luminares que usaram a inteligência sem moral e assim caíram. Paulo Apóstolo diz em sua Epístola aos Coríntios, 3:19 e 20:

— Pois a sabedoria deste mundo é loucura aos olhos de Deus. Como está escrito: “Ele apanha os sábios na sua astúcia”; e novamente: “O Senhor sabe que os pensamentos dos sábios são fúteis”.

Então não importa só a inteligência, que é Luz, ou mesmo só a ignorância, que é Sombra. Precisamos de uma bússola moral, ética, para entender o que é imoral e trabalhar de maneira que não manifestemos imoralidade por meio de nossa luz.

A Luz Moral

Que bússola utilizar para manifestar a moralidade? Jesus, exemplo de inteligência, humildade e compaixão.

— Eu sou a luz do mundo. Quem me segue jamais andará nas trevas, mas terá a Luz da Vida Eterna.

Ou seja: “se você seguir o que Eu lhe mostro, se decidir seguir meu exemplo, não se preocupe. Você não será engolido pela escuridão, mas se tornará a Luz da Vida Eterna”. É notável o que Ele está afirmando aqui, e quando pensamos nisso, constatamos que é possível viver uma vida equilibrada onde a inteligência caminha junto com a moralidade.

Sugiro a leitura, em Espírito e Verdade, à Luz do Novo Mandamento do Cristo, da Bíblia, em particular o Evangelho do Cristo e o Seu Apocalipse, que nos mostra não só uma vida possível e equilibrada em comunhão com Deus, mas também a divindade de Jesus. Isso é representado em Sua escolha consciente de fazer a Vontade de Deus e fazer o Bem aos outros.

— A razão pela qual meu Pai me ama é que Eu dou minha vida - apenas para retomá-la. Ninguém a tira de mim, mas Eu a dou por minha própria vontade. Eu tenho autoridade para apresentá-la e autoridade para retomá-la. Esta ordem recebi de meu Pai.

(Evangelho, segundo João, 10:17-18)

Isso nos mostra o que é Divino em Cristo. Ele não escolhe virar as costas para a escuridão deste mundo, mas ser um transformador ativo dele, estar presente e estar lá, ajudando-nos através de Seu exemplo a nos tornarmos Um com Deus.

“Eu sou a Luz do mundo”

Ele é verdadeiramente Divino, é a Luz que decidimos seguir para tornar este mundo melhor, para torná-lo o Reino de Deus. O que é ainda maior é que Jesus nos convida a fazer parte dela também (João, 13:34-35). Para ser uma luz como Ele (Mateus, 5:14 a 16),

— 14 Você é a luz do mundo. Uma cidade construída sobre uma colina não pode ser escondida. 15 Nem as pessoas acendem uma lâmpada e a colocam debaixo de uma vasilha. Em vez disso, eles a colocam em seu suporte e iluminam todos os que estão na casa. 16 Da mesma forma, deixe sua luz brilhar diante dos outros, para que vejam suas boas obras e glorifiquem a seu Pai que está nos céus.

Um outro ponto que gostaria de trazer é sobre a Divindade do Cristo e a Humanidade Terrena, como Sua contraparte. Como ensina o Irmão Paiva Netto, Jesus é “o Sol que não se apaga e nem cria sombras”. Ele é, portanto, A LUZ. E não qualquer Luz, Ele está acima de tudo e de todos.

Ele é o que sustenta moralmente a própria Vida Eterna, e nós somos Suas sombras de maneira que exaltamos Sua Humildade e Grandeza. Nesse sentido, Jesus é Cristo também por nossa causa e nós somos apenas “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Romanos, 8:17), por causa Dele. Como duas polaridades, uma só pode existir por causa da outra. Ou seja, você só pode ser Cristo com uma Humanidade para cuidar e você só pode estar em uma Humanidade se houver um Cristo.

— Quão inestimável é o teu amor infalível, ó Deus! As pessoas se refugiam na sombra de suas asas. (Salmos 36:7)


Para finalizar esta primeira parte, quero citar o Irmão Paiva Netto nesta bela declaração dele, em que percebemos Luz e Sombra em perfeita harmonia: “Admito a Divindade do Cristo, mas me comovo com a humanidade de Jesus”.

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