Enamorados, Alma Gêmea e a Misericórdia Divina

Estamos na temporada do amor entre casais. Celebrações, encontros, presentes, surpresas… Tudo isso é muito bom e deve existir, mas convido você à reflexão de que isso não representa o todo. O relacionamento e, principalmente, o amor entre duas almas deve ser mantido além das festividades e dos momentos alegres. O compromisso que assumimos com o outro é uma decisão muito importante na vida, mas deve ser levado com leveza. Amizade acima de tudo, porque são almas que seguem conjuntamente uma jornada terrena e espiritual para a individualização e, consequentemente, a iluminação (João, 8:12; Mateus, 5:14).

Casais apostólicos

Sendo Jesus, o “Ecumênico por excelência” — como ensina o Irmão Paiva —, procuramos entender a universalidade desta ordem espiritual para as almas desencarnadas e reencarnadas (Lucas, 10:1):

“(...) designou o Senhor ainda outros setenta e mandou-os adiante da sua face, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir”.

O Mestre Excelso manda-nos ir de dois em dois para o cumprimento da nossa missão espiritual. Preparando, as almas que conhecemos no decorrer da vida, com os nossos exemplos, nossas palavras, nossas atitudes para a internalização da Sua Causa Divina. Como está narrado no Apocalipse de Jesus, segundo João, 11:3 a 14 — As Duas Testemunhas Mártires.

Estes são os casais apostólicos, que aceitam a Missão Espiritual que lhes foi ofertada. Seja no sentido da amizade, familiar ou amoroso. Almas comprometidas com um único propósito: Anunciar a chegada do Reino de Deus à Terra pela manifestação prática do Amor que o Cristo nos deixou (João, 13:34 e 35).

Dois pólos, uma alma

Em Gênesis (2:20 a 24) encontramos o conto da formação de Adão e Eva: 

20 (...) Mas para Adão não se achava uma ajudadora que fosse como a sua outra metade.

21 Então o Senhor Deus fez com que o homem caísse num sono profundo. Enquanto ele dormia, Deus tirou uma das suas costelas e fechou a carne naquele lugar.

22 Dessa costela o Senhor formou uma mulher e a levou ao homem.

23 Então Adão disse: “Agora sim! Esta é carne da minha carne e osso dos meus ossos. Ela será chamada de ‘mulher’ porque Deus a tirou do homem.” 24 É por isso que o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam uma só pessoa.

A beleza dessa história não está circunscrita à literalidade material. Está na transmissão da ideia da formação da alma. Ao representar a dualidade presente no Espírito Eterno de cada ser, isto é, o Masculino e o Feminino.

Pólos que apenas existem por causa do outro. Isso está representado na poesia das palavras de Adão (2:23), que só pode identificar-se a si mesmo como ish (homem) pelo seu relacionamento com isha (mulher), Eva. Sua personalidade portanto está predicada no relacionamento.

Num sentido espiritual, podemos dizer que a Alma se define pelo relacionamento interno de sua dualidade e só pode galgar a caminhada para a iluminação se antes alcançar a individualização da sua personalidade expressa por essa divisão. Carl Jung foi um dos precursores a reunir essa sabedoria milenar e expressá-la de forma compreensível à modernidade: 

— A anima, sendo feminina, é a figura que compensa a consciência masculina. Na mulher, a figura compensadora é de caráter masculino e pode ser designada pelo nome de animus. Se não é simples expor o que se deve entender por anima, é quase insuperável a dificuldade de tentar descrever a psicologia do animus.

Ainda dentro desse sentido está a Misericórdia Divina em manifestar externamente a dualidade que devemos nos atentar. Daí, portanto, o valor do casal.

Almas Gêmeas

A ideia de almas gêmeas, popularmente, está vinculada ao encontro de duas almas que alcançam o ápice do amor que existe uma pela outra após a cerimônia matrimonial, o casamento. Primeiro, é apenas uma palavra para a formação de uma aliança e ela não significa nada além do que a queremos dar. A realidade que construímos dela faz parte das nossas escolhas e ações.

Segundo, esta aliança não está apenas vinculada à união de duas almas gêmeas no sentido de ambas serem a representação do Amor necessário para se viver a vida. Representa a união de duas Almas Gêmeas Irmãs, que se completam na luta, na dor, no sofrimento, no desespero e que celebram juntas a vitória, a alegria, a perseverança e a conquista. Não são os valores que fazem as Almas Gêmeas se completarem, são seus defeitos. Defeitos que todos nós possuímos e que nas mãos daquela ou daquele que nos acompanha nessa jornada aqui na Terra se tornam valores, talentos. 

Devemos ver o casamento como a formação de um time, de uma banda, de uma equipe, de uma família, onde todos apesar de suas diferenças trabalham juntos para um mesmo objetivo: a união com Deus.

Terceiro, dentro do que expus acima, não devemos ver o casamento como o modo comum de que a pessoa com quem irei me casar se resume em toda a felicidade da minha vida, não, ela é apenas uma parte dela. Do contrário seria uma atitude injusta. Colocar nas costas da outra ou do outro o peso de ser TODA a razão da felicidade. Quem alcança a própria felicidade é a pessoa e não o outro por ela. Porém, isso não significa que devam seguir o percurso sozinhos. Podem se ajudar, aliás, devem aceitar a ajuda e é esta a razão do casamento.

A pessoa com quem você casar pode, se assim ela quiser, fazer o papel de confidente, de amiga ou amigo, daquela pessoa mais próxima que sabe o que te faz chorar e sorrir. De ver as próprias capacidades para vencer o desafio que está posto à sua frente.

Querendo que você cresça, lute e conquiste os próprios sonhos, as próprias vontades para que se orgulhe de si mesma e encontre em si a felicidade, reconheça que o Amor Divino está dentro de si e que somente Deus pode trazer TODA a felicidade. 

Defeitos e Valores

Os defeitos que vemos no outro, dentro do senso comum, são o que nos completam, porque essas mesmas características que consideramos como defeitos são os valores que muitas vezes precisamos aprender. Não é a unidade de pensamento que define uma Alma Gêmea, mas sim as diferenças, porque essas fazem com que a pessoa veja a grandeza que é o sonho da outra e que nem mesmo ela consegue enxergar.

Claro, que é preciso o equilíbrio pela Moral Espiritual. Se uma pessoa tem o defeito de rivalizar-se violentamente e a outra tem o valor de aceitar a opinião alheia. A primeira tem que observar o valor que é respeitar o próximo sem violência e a segunda vai entender a importância em respeitar a opinião própria. Ambas buscam o equilíbrio de compreender o valor individual e coletivo, mas sem violência, que não é um defeito, mas um mal a ser corrigido.

E o tal do casamento?

Nada mais é que uma ideia representada por uma palavra. O que para uns pode ser definido como tristeza, alegria ou devoção. Prefiro vê-lo como a união de duas Almas Amigas, que escolheram ajudar umas as outras a vencerem a si mesmas.

Que possamos ter  a oportunidade de refletir se aprendemos a necessária lição que proporciona ou se realmente vivemos tudo o que o casamento pode nos oferecer para o desenvolvimento e o engrandecimento espiritual.

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