“O nosso presente é o futuro que vivemos”

Arquivo Pessoal

Inspirado por esse pensamento de Paiva Netto, trago aqui um conto que aborda a complexa ideia sobre o Determinismo.

Sem a discussão de tais ideias complexas e a curiosidade de mentes desbravadoras, não teríamos o progresso, mas importante é que sejam guiadas pelo Mundo Espiritual Superior e iluminadas pelo Amor de Deus.

Ao final, espero instigá-los a um debate saudável. Vamos a ele:

Uma conversa entre curiosos

Numa tarde de domingo na época da primavera, em que os pássaros cantam e o florescer da beleza natural das flores saúdam as abelhas, dois amigos se encontram para tomar um café. Era um encontro costumeiro para discutirem sobre suas ideias.

Augusta d’Ávila, professora de física e entusiasta das questões espirituais, inicia com uma pergunta que lhe importunava a semana inteira:

  • Bruno, o que é o determinismo, segundo a perspectiva espiritual?

Bruno Rodrigues, Pregador Ecumênico, ficava empolgado com as tardes de domingo. Adorava as conversas que tinha com Augusta, pois sempre eram questões intrigantes sobre os temas espirituais. Para eles, suas conversas traziam luz às relações entre a Fé e a Ciência.

  • Essa é uma ótima pergunta. - Tomou um gole de café, deu uma mordida no pão de queijo e deu sequência à sua resposta. - Olha, segundo a visão da Religião do Terceiro Milênio e o que nos foi trazido pelo Irmão Zarur, reconhecemos que existem dois aspectos do determinismo.

  • Dois aspectos?

  • Sim, um histórico e outro divino.

  • Hmm… Como assim?

  • Bem, em resumo, o histórico seria a vivência da consequência, boa ou má, de escolhas passadas…

  • Tem, então, uma relação direta com a Lei de Causa e Efeito, Ação e Reação…

  • Sim, podemos dizer isso.

  • Mas, e o divino?

  • Esse é mais instigante - disse Bruno com um leve sorriso. - O que você acha?

Augusta parou um pouco para refletir e, então, respondeu:

  • Se levarmos em consideração que questões divinas estão acima de questões humanas, diria que o determinismo divino é um estágio superior ao histórico, mas sem negá-lo.

  • Concordo com a sua afirmação. Agora, como fica a questão do planejamento divino? Porque, antes de reencarnarmos, um planejamento já foi estabelecido e, dentro disso, estaríamos vivendo tudo o que já foi planejado, determinado. Por exemplo, essa nossa conversa não está acontecendo ao simples e puro acaso, é uma situação que já estava determinada a acontecer. Ou seja, será que o determinismo divino nega o nosso livre-arbítrio?

  • Se ficarmos apenas nessa perspectiva, a resposta seria um “claro”, “sim”! - Respondeu Augusta.

  • Verdade! Mas apenas podemos considerar isso segundo a perspectiva material, da mesma forma como observamos o determinismo histórico. Paulo Apóstolo, na 1ª Carta aos Coríntios (2:14), diz que “o ser humano não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. 

  • Entendi.

  • Ou seja, se vamos discutir sobre o determinismo divino, devemos observá-lo segundo o Espírito e não pela limitada visão material. - Disse Bruno entusiasmado.

  • Mas como fazer isso se nos encontramos na matéria?

  • Hahahahahah… Boa pergunta… - Bruno tomou mais um gole de café.

  • E?

  • Não sei!

  • Como assim? Hahahahaha… Você é o estudioso das Leis Espirituais.

  • E você, não?

  • Sim, mas… - Augusta respondeu inconformada.

  • É simples, eu não sei tudo (risos)... Por isso, estamos conversando. Vamos tentar entender juntos.

Augusta deu um gole no seu suco de laranja enquanto Bruno terminava de comer sua porção de pão de queijo. Ele, então, perguntou:

  • Certo, vamos começar com o seu ponto de vista. Por que você não me explica o que a Ciência entende sobre a ideia do determinismo? Sei que não existe uma fórmula matemática para isso, mas em sentido filosófico. Como vocês observam o determinismo?

  • Bem, em um primeiro momento, existem duas perspectivas dominantes sobre a Física, e não me entenda mal quando uso o termo “perspectivas”, porque aqui não quero dizer que apenas se baseiam em aspectos não comprováveis, pelo contrário, foram comprovadas, apesar de ainda terem teorias não comprovadas rsrs…

  • Interessante.

  • Sim, sim! Então, a Física hoje é divida entre a Clássica e a Quântica. A Clássica se resume ao mundo que enxergamos e que possui regras bem definidas do funcionamento das Leis Naturais, pelo menos num sentido simples da nossa, ainda, limitada lógica. Já a Quântica está ligada a um mundo que não enxergamos a olho nu, basicamente, no caso, o atômico, e que possui Leis também bem definidas, mas que fogem ao nosso sentido de restrição dessas mesmas Leis.

  • Ou seja…

  • Na Quântica, enquanto você possui uma Lei que esclarece o comportamento dos átomos, existe outra que nos fala que esse comportamenteo é alterado no momento em que os átomos são observados. A Ordem Natural da Quântica é probabilística. No caso da realidade material que vivemos, é possível interpretar que esta é uma ordem fundamentada dentro daquilo que o observador interpreta como realidade. Apesar do que lhe trouxe, ainda é difícil definir essa Ordem Natural da Física Quântica, até porque fenômenos identificados são decorrentes da nossa própria observação, mas há uma infinidade de resoluções.

  • Nesse caso, você está falando do Gato de Schrödinger. - Disse Bruno, empolgado com a própria percepção que teve.

  • Sim, também, mas não seria tudo. Essa teoria, em particular, define bem a Quântica ao discutir sobre a questão do observador. Até o momento de abrirmos a caixa, nunca saberemos seu estado real, se o gato estaria vivo ou morto. E, dentro do que eu havia falado anteriormente, por exemplo, a resposta que eu tiver sobre a condição do gato quando eu abrir a caixa será diferente da que você obtiver quando abri-la, por causa da Ordem Natural de probabilidades.

  • Podemos dizer, então, que você nunca saberia a resposta a não ser que a observasse e isso, ao mesmo tempo, significa um infinito de possibilidades.

  • Exatamente! - Respondeu Augusta entusiasmada, e, num reflexo natural, deu um leve pulo na cadeira.

  • Certo, mas o que isso tem a ver com a visão sobre o determinismo do qual estamos discutindo.

  • Bem, em resumo, o que quero dizer é que filosoficamente, não levando em consideração implicações matemáticas aqui, pelo menos por agora, e até mesmo para fazer conexão com os conceitos que você trouxe, a física clássica estaria relacionada ao determinismo histórico. Por exemplo, a Lei de Ação e Reação, e  é completamente observável por nós a olho nu em qualquer instante da nossa vida, ou seja, é uma Lei bem definida e de fácil assimilação à limitada lógica material.

  • Enquanto a Física Quântica estaria, em termos filosóficos, relacionada ao determinismo divino.

  • Sim, pelo menos para esse exemplo que estamos discutindo agora. É algo que não podemos observar sem alterar o resultado da nossa própria observação.

  • Ok, mas isso não responde a questão que lhe trouxe sobre como a Ciência vê o determinismo em si.

  • Verdade… - Parou um instante e colocou a mão no queixo enquanto refletia. - Ok! Fugi um pouco aqui rsrs…, é que acabei me empolgando… Olha, esse tema de determinismo e probabilidade foi uma discussão muito acalorada no século 20, porque Einstein e outros eram de um grupo chamado de realista quântico, já Bohr e outros eram do não-realista quântico. Bem originais… Hahahah…

  • Uma coisa que posso dizer é que os cientistas possuem um bom senso de humor… Hahaha...

  • Verdade! Mas, voltando aqui, Einstein nunca ficou confortável com isso, dizia que "Deus não joga dados", porque ele era aquele determinista clássico, mas a quântica mudou essa percepção, abriu um novo horizonte, trazendo a probabilidade à tona. Só que isso não significa que cada um vai interpretar uma coisa à sua maneira e pronto, está tudo bem. E é aí que eu, particularmente, considero que até mesmo Einstein acabou, não por maldade, limitando Deus.

  • Realmente, se pararmos para pensar que Deus é Toda Singularidade, é o Tudo, e que nada Lhe escapa, não podemos limitá-Lo à nossa percepção.

  • Sim, e veja, não nego a posição de Einstein e nem a de Bohr, acredito que ambos trouxeram aspectos do que puderam observar rsrs... Um físico que inclusive procurou aliar ambas as percepções foi David Bohm e, dentro do que ele traz, faço a seguinte relação na questão científica, em termos filosóficos. Diria que o determinismo é apenas visto como a pré-definição de um ordenamento, cujo resultado não foge daquilo que foi estabelecido. Por exemplo, uma Lei. Nada foge daquilo que está definido por essa própria Lei.

  • Certo, não foge muito do que estamos discutindo.

  • Sim, não foge, mas traz a seguinte premissa: E quanto à formulação da Lei? Quem ou O Quê criou essa pré-definição?

  • E é aí que entra a nossa discussão sobre as questões espirituais.

  • De fato.

  • Bem, dentro da nossa compreensão, sabemos que é Deus.

  • Sim, isso não nego, sou uma mulher de fé também. Porém, estamos tentando compreender o funcionamento e o sentido da pré-definição, isto é, a própria Lei.

  • Correto.

  • Voltando um pouco ao que eu estava falando e trazendo Bohm para a nossa discussão, ele procurou entender isso e, inclusive, trouxe uma noção interessante sobre a questão da autoconsciência, isto é, estar ciente daquilo que pensa e daquilo que faz. E isso,… 

  • Augusta, está muito boa a discussão, mas seu bolo vai estragar. - Cortou Bruno, dando uma leve risada.

Continua…

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