Uma conversa entre curiosos - II

Foto de Jeremy Yap na Unsplash

Augusta estava tão empolgada, que havia esquecido. Era uma fatia macia de bolo de chocolate com cobertura de frutas vermelhas. Parou para comer e tomar mais um pouco do suco de laranja.

  • Continuando… dentro do determinismo divino, podemos assumir a ideia de que o resultado a ser observado é alterado no momento em que o observamos, ou seja, o resultado será aquilo que queremos ver, podemos dizer que isso traz relação com o momento em que vivenciamos o que seria o determinismo divino. Tornamos assim o resultado uma questão consciente.

  • Acho que estou entendo o que você quer dizer, está falando de escolhas.

  • Isso mesmo. No momento em que fazemos determinada escolha, estamos ao mesmo tempo alterando o resultado daquilo que seria a Ordem Natural num determinismo histórico.

Bruno recostou um pouco na cadeira e ficou pensativo por um instante.

  • Mas, agora entramos numa outra questão: O que seria de fato essa Ordem Natural, dentro da ideia de determinismo? Seria da Ordem Natural do determinismo, uma pessoa ser assassinada por outra?

  • Aí fica bem mais complicado, entendi onde você quer chegar - Respondeu Augusta, encucada com o raciocínio que acabaram de atingir.

  • De fato entraríamos num emaranhado sem fuga se ficássemos apenas no âmbito material das coisas.

  • O que você propõe?

  • Bem, teríamos que levar em conta a Moral por trás das nossas escolhas.

  • Certo, como valores a definir nossas escolhas, mas qual a relação que você propõe com o sentido de determinismo histórico e divino?

  • Na questão da própria Moral estamos falando de valores além do sentido material da vida, ou seja, não como princípios que nós seres humanos definimos como certo ou errado segundo o que acreditamos, mas sim de Valores Espirituais e que muitas vezes pode parecer “loucura” para nós como lembrei de Paulo Apóstolo anteriormente.

  • A própria ideia de moral ou o que seria definido como valores muda de sociedade para sociedade, de cultura para cultura.

  • Por isso, há um trabalho entres os povos de encontrarem os Valores Universais, ou seja, os Valores Espirituais, já definidos pelo próprio Deus.

Augusta deu um suspiro, enquanto encostava a cabeça na cadeira e com um ar de esperança, afirmou:

  • Esperamos!

  • Agora, voltando à nossa discussão, a Moral, portanto, deve ser observada também pelo seu aspecto espiritual. Dentro dessa ideia temos que levar em consideração também o próprio Tempo.

  • Você quer dizer a noção de passado, presente e futuro?

  • Isso no nosso nível, porque, novamente como ensina nosso líder espiritual, Irmão Paiva, para “Deus o tempo é”. Quer dizer, é um constante “presente”, não existe o sentido de passado e futuro. Isso só acontece quando estamos no Plano Material, ou seja, a noção de passado, presente e futuro está relacionada com a própria matéria.

  • Mas, temos que levar em conta também que isso é uma construção do ser humano, porque na própria natureza, não há propriamente o sentido de passado, presente e futuro, ela não segue de forma linear, mas sim num sentido de ciclos.

  • Realmente, está em constante transformação diante da vivência do Agora.

  • Prossiga, porque estou querendo entender onde essa nossa discussão meio “doida” vai chegar… Hahahahaha… - Falou Augusta, empolgada.

  • Ok, mas tente rir mais baixo...

Bruno ficou envergonhado com a risada alta de sua amiga, que ecoou por todo o estabelecimento. Cada um deu um gole na bebida que haviam pedido. Bruno agora estava com um chá mate, gelado. Ele então prosseguiu.

  • Bem, já entendemos que as escolhas nos faz vivenciar resultados de um “passado”, o que nos coloca no “presente” e nos direciona para um “futuro”. 

  • Você não acabou de dizer que dentro do aspecto espiritual não ocorre a ideia linear do tempo: Passado, presente e futuro, certo?

  • Sim, mas, me acompanhe nessa ideia: O determinismo histórico é resultado de escolhas que fazemos na atual encarnação, porém, a escolha que faço hoje terá resultado em um período futuro, mas quando eu vivenciar esse efeito, terei a ideia de que estou vivendo o presente. Já o determinismo divino é aquilo que já está programado por nós ou não, antes da nossa reencarnação e que iremos vivenciar, independente da escolha que fizermos quando encarnados, havendo uma ressalva que é a Misericórdia Divina, nesse caso, dependendo do que está planejado, nós temos o livre-arbítrio de amenizar ou aumentar a vivência do que está para acontecer, ou até mesmo, se for de nosso merecimento, modificar o que estava planejado.

  • Então também se aplica àquela questão que trouxemos anteriormente sobre uma pessoa já estar determinada a fazer o mal. Na verdade, ela só irá realizar determinada coisa se for de sua própria vontade, não que esteja já determinado por algo externo.

  • Sim! Não é que a pessoa estaria determinada a realizar o mal, ela que, por escolha própria, se colocou na condição determinada para o mal. Ou seja, há sempre escolha.

  • E, onde se encaixa a ideia da Moral? - Perguntou Augusta.

  • O que quero dizer com Moral, é que ela é o fator que determinará se o efeito de nossas escolhas será algo ruim ou bom.

  • Com isso, entramos na ideia do livre-arbítrio que é uma, digamos, “saída” que modifica para melhor, ou não, nossa programação já estabelecida - Concluiu Augusta.

  • Mas, ainda, não é uma ideia de Moral para com os outros, mas sim da Moral para consigo mesmo. Isto é, se você espiritualmente elevou ou baixou a sua moral, seu conhecimento espiritual sobre as coisas. 

  • Agora estamos falando da pessoa perceber se a escolha dela irá afetar sua própria encarnação. Ter consciência se foi uma escolha moralmente certa ou errada.

  • Isso! O próprio Cristo em Seu Evangelho nos fala da consciência da escolha, em João, 10:17-18: “A razão pela qual meu Pai me ama é que Eu dou minha vida - apenas para retomá-la. Ninguém a tira de mim, mas Eu a dou por minha própria vontade. Eu tenho autoridade para apresentá-la e autoridade para retomá-la. Esta ordem recebi de meu Pai”.

  • Interessante, ver essas palavras de Jesus nessa perspectiva.

  • Em termos espirituais estamos sempre vivenciando o Carma, mas ele será ruim ou bom dependendo das nossas escolhas. Se alguém, por exemplo, entra num ciclo de destruição, ficará preso a esse ciclo até que mude a sua atitude e passe a construir um ciclo positivo para si próprio.

  • E, se nisso colocarmos a ideia do Gato de Schrödinger, a nossa escolha irá afetar o resultado no instante em que a fizermos, além de que sofrerá influência do momento e da condição espiritual que estivermos.

  • Por exemplo, quando estamos felizes vemos o mundo mais colorido e quando estamos tristes vemos o mundo numa “escala de cinza”, certo? - Questionou Bruno e num instante depois continuou. - Ou seja, dependendo da condição espiritual que estivermos isso afetará nossas escolhas. E essa condição irá depender das influências que sofremos do mundo material e espiritual e também do nosso conhecimento sobre as questões espirituais.

  • Por quê? - Perguntou Augusta.

  • Lembra da questão de estar consciente?

  • É mesmo!

E acenando de forma afirmativa com a resposta da amiga e com um sorriso no rosto, continuou Bruno.

  • Se você conhecer as questões espirituais saberá perceber a condição em que você está e poderá fazer a sua escolha de forma mais consciente das consequências dela.

  • Entendi, saberá utilizar de forma eficiente a Lei de Causa e Efeito na sua vida.

  • Também está ligado a um outro ponto que o Irmão Paiva traz que é de que o “livre-arbítrio é relativo”, ou seja, podemos escolher até determinado ponto, mas outras coisas ocorrem ao nosso redor que não estão no nosso controle e que estão diretamente relacionadas à escolhas que fizemos em vidas passadas. É como o Irmão Zarur também diz: “A Lei Divina, julgando o passado de homens, povos e nações, determina-lhes o futuro”. Entretanto, mesmo que relativo, não nos exime da responsabilidade da nossa escolha, no final, quem toma a decisão de determinada atitude é sempre a própria pessoa.

  • Podemos relacionar também com a ideia que Montesquieu traz de que a minha liberdade se encerra quando a sua começa. Por exemplo?

Bruno parou um instante para refletir e então retomou.

  • Não fugiria, apesar de que a verdadeira liberdade está no Mundo Espiritual. Enquanto que no campo da matéria, estamos ligados a planejamentos predecessórios à vida encarnada que assumimos.

  • Ou seja, o planejamento divino é construído no Mundo Espiritual, enquanto que na Terra é executado.

  • Dentro de toda a ideia que estamos discutindo sobre o Livre-Arbítrio e a própria Moral, por exemplo, as circunstâncias desafiadoras que vivemos hoje em termos de aquecimento global, problemáticas sociais, são todas consequências de escolhas “passadas”, digo, dentro do nosso ponto de vista material, porque em sentido espiritual ainda estamos no “presente” dessas escolhas que nos prejudicam hoje e só iremos sair delas se decidirmos mudar intimamente.

  • Se começarmos a entrar nesse aspecto vamos acabar querendo abordar o mundo todo num curto espaço de tempo material que temos hoje… Hahaha - Comentou Augusta enquanto dava uma leve risada.

  • Hahahaha… Realmente! - Agora era Bruno quem ria alto.

  • Falou de mim, mas agiu igual… Hahahaha…

  • É… Foi incontrolável…

  • Será? Você não tinha a escolha de evitar que risse alto?

  • É, você me pegou nessa… Hahahaha…

Continua…

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