Silêncio = Foco

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Estamos acostumados a sempre ouvir que para encontrar o equilíbrio entre espírito, mente e coração, devemos buscar e praticar o essencial Silêncio.

— Quem sempre conserva a quietude [de alma] é senhor também da inquietude (Lao-tsé)


— momentos surgem na vida em que só o profundo silêncio da alma consegue traduzir a paz, o reconhecimento e a alegria. (Irmão Jacob [Espírito], no livro Voltei)


— A “fala correta” é como uma pessoa muda pensando que não é muda. No mundo das pessoas comuns, o mudo não fala; no entanto, em seu próprio mundo, não há pessoas mudas. Devemos estudar o provérbio: “a boca está pendurada em todas as paredes – cada boca está em todas as paredes”. Ou seja, o silêncio do Zazen é a materialização da fala correta. (Dōgen Zenji)

— É apenas essa qualidade de quietude, esse silêncio absoluto da mente que pode ver o que é eterno, atemporal, inominável. Isso é meditação. Certo? Certo, senhores. (Krishnamurti)


— Quando entra no Silêncio, você ouve a Voz de Deus e dialoga com Ele. Quem entra no Silêncio penetra no Espírito de Deus e por Ele é sublimado. Tudo o que aprendemos de eterno vem desse Silêncio. As nossas mais lindas frases foram confidenciadas por ele. Ele nos segredou esses ensinamentos. (Alziro Zarur)

— Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. Jesus (Mateus, 6:6)

Como você pôde perceber no título, convidamos você a ver o Silêncio como equivalente à palavra: Foco. É assim que encontramos e entramos no estado espiritual do Silêncio.

Pode parecer confuso, mas o Silêncio não representa o que comumente pensamos. Não significa a total ausência de som, mas sim o foco em um som específico, fazendo com que outros se calem aos seus ouvidos. Está muito mais ligado a uma ausência de atenção ao que é externo ao seu foco.

Caso contrário, seria muito mais confuso entender esses ensinamentos sobre as características do Silêncio. Como você poderia buscar o silêncio para depois ouvir a voz de Deus ou preencher sua mente com a Sabedoria Divina?

O Irmão Alziro Zarur nos traz uma compreensão vital de como podemos, hoje, ouvir a voz de Deus: “Antes, o discípulo ia para o deserto. Hoje, para nos prepararmos espiritualmente, não precisamos ir aos lugares áridos ou distantes, pois basta entrarmos no Silêncio”.

O que podemos tirar disso? Eu concluiria que já experimentamos o Silêncio em nosso cotidiano, e o que precisamos fazer é começar a perceber essa condição. Toda vez que você entra em um estado de foco, tendo os sons externos e internos ausentes do fluxo de seu pensamento atual, você está no Silêncio. Nosso esforço não deve ser em caminhos místicos para entrar no Silêncio, mas sim em tirar o que está tomando nosso foco do que é espiritualmente importante para nós.

O que está em sua mente que está tirando sua atenção de todo o resto? Através dessa reflexão, podemos perceber o mundo sonoramente poluído que construímos para nós mesmos nesta sociedade moderna. Como direcionamos o foco de nossas mentes para coisas sem maior importância ao intrínseco valor espiritual que possuímos.

Orar ou meditar

“Jesus, entretanto, foi para o monte das Oliveiras.”. (João, 8:1)

É comum ao iniciado espiritualmente entender a importância do retiro para falar com Deus, ou, se preferir, entrar em sintonia com uma Consciência Superior. Tudo isso é uma forma de reunir os pensamentos e refletir sobre um tema específico que pode aproximá-lo de Deus. Como dissemos antes, não é preciso se retirar para um deserto, você pode orar ou meditar onde quer que esteja. Mas entre todas essas práticas há alguma diferença?

O Irmão Paiva argumenta que não há: “Orar e meditar têm exata correspondência. Ser humilde, perante a Verdade, é conduta imprescindível. Assim pensava o notável professor e missionário metodista Eli Stanley Jones (1884-1973), que permaneceu largo período de sua vida na Índia e visitou várias vezes o Brasil: ‘A humildade é a essência da Criação Divina. A primeira providência para o encontro com Deus é liquidar com o orgulho. (...) Quando a pretensão termina, o poder tem início’.

São dois lados da mesma moeda, o importante é que você moralmente busque conectar-se a Deus. Apenas, faça!

O ato da Prece e da Meditação

Como poderíamos definir o ato da Prece? Do Hebraico palal, significa “intervir, interpor, arbitrar, julgar”. No Antigo Testamento, toda vez que alguém decidia agir, seu primeiro ato era orar a Deus, ou seja, falar com Ele para que pudesse julgar aquilo que foi exteriorizado e se conseguisse seu objetivo, isso era um sinal da aprovação de Deus em relação à sua intenção. Porém, não significa que Deus aprova atos de violência como os que são narrados no Antigo Testamento, estamos apenas procurando explicar o que está por trás da ideia do ato da Prece.


Precisamos entender que existem dois tipos de Vontade, a do Criador e a da criatura. Com isso, passamos a compreender que a Primeira é absoluta e pré-existente, e a Segunda é construída em uma Corrente, onde seus elos são os pensamentos coletivos de um objetivo definido. A segunda poderia anular a vontade de Deus? Claro que não; há respeito pela Lei Divina do Livre-Arbítrio, mas se for contra outras Leis Divinas não se formará sequer o primeiro elo.

O ato da Prece é uma ação reflexiva das palavras que você usa para expressar uma vontade em uma conversa com Deus ou com a coletividade ecumênica de espíritos em direção a um objetivo definido. Por meio desse sentido, podemos discutir a Meditação: que, poderíamos argumentar, é uma reflexão ativa sobre quais palavras você pronunciará para manifestar seu objetivo definido. Um é o ato de externalizar da sua intimidade as palavras que definem seu estado espiritual, o outro é o momento em que você reflete sobre quais palavras usar. São complementares.

Meu objetivo aqui é falar sobre como tudo isso é comum a todos. Nós já fazemos isso. O iniciado é aquele que voluntariamente começa a prestar atenção nesses detalhes e, então, trabalha para não ser vítima da ignorância espiritual e age de forma equilibrada e unida segundo a Vontade de Deus. Assim como o Cristo roga em Sua Oração ao Pai (Evangelho, segundo João 17:15‭-‬19):

“Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também Eu não sou. Santifica-os na Verdade; a Tua palavra é a Verdade. Assim como tu me mandaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo. E a favor deles Eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na Verdade”.

A Autoridade do Silêncio do Cristo

Jesus, nos mostrou Sua Autoridade ao ensinar o significado do Silêncio quando foi levado a Pilatos (João, 18:38). Esse é um momento na vida do Cristo em que Ele nos mostra que devemos buscar nos elevar no conceito de Deus e não no conceito humano.

Como um rio tranquilo que absorve a rocha e o choque resultante de seu arremesso, o Silêncio do Cristo não se abala com as inquietantes interferências externas. Toda Sua obra se manifesta a partir do Silêncio da Alma.

Por isso, Ele compreende as sutilezas da relação entre as Leis Divinas e seus súditos. Como podemos ver na passagem A cura de um paralítico em Cafarnaum (Evangelho de Jesus, segundo Mateus, 9:1-8).

Sabendo o que havia dentro dos de coração duro, Cristo mostrou que não é preciso expressar de forma gritante a sua vontade para ter a aprovação de Deus e formar uma corrente espiritual. Ou seja, no Silêncio de sua Alma você pode meditar e orar a Deus, criando a corrente ou elo espiritual necessário para manifestar Sua Vontade.

Ele nos mostrou na prática o significado de Suas palavras (Mateus, 6:1-8). Podemos, então, entender que é importante agradar a Deus e não o falível ser humano. Que não há necessidade de mostrar publicamente os milagres para avaliação, e que o verdadeiro arrependimento para com o julgamento de Deus sobre nossos pecados espirituais vem do coração.

É muito mais eficaz recebê-lo no Silêncio de sua Alma, pois não serão as pessoas falíveis que lhe darão forças para carregar seus pecados, mas o Pai Celestial que o ajudará em segredo. Não estou argumentando contra a importância de um terapeuta para que você perceba as mudanças necessárias pelas quais precisa passar, nem contra alguém que opta por publicamente pedir perdão ao ofendido. Mas, isso não têm importância se você não o fizer com seriedade. Jesus demonstrou essa realidade ao falar “Levanta-te e anda!”.

O Divino Amigo não permitirá que os pecados de qualquer espírito humilde sejam expostos a “cães e porcos”, a menos que seja necessário, quando mesmo sendo avisada em segredo a pessoa não percebe o erro que ainda está cometendo. Portanto, a pessoa deve suportar o choque de ser exposta publicamente, mas nunca se não for necessário.

Deus e Seu Filho Unigênito são Um, Sua misericórdia é infinita e é importante que o perdão seja recebido em nossos corações e não nos ouvidos das pessoas ao nosso redor.

Oração Ecumênica de Jesus

Para finalizar, vamos meditar nas palavras desta oração ensinada por nosso Divino Mestre. A qual, o Irmão Paiva chama de Prece Ecumênica de Jesus (Evangelho, segundo Mateus, 6:9 a 13). Ou seja, qualquer um pode dizer essas palavras sem se ofender. Que Cristo abençoe nossos Espíritos Eternos com a iluminação de Sua Vida.

Pai Nosso, que estais no Céu,

Santificado seja o Vosso Nome.

Venha a nós o Vosso Reino.

Seja feita a Vossa Vontade assim na Terra como no Céu.

O pão nosso de cada dia dai-nos hoje.

Perdoai nossas ofensas, assim como nós perdoarmos aos nossos ofensores.

Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal,

porque Vosso é o Reino, e o Poder, e a Glória para sempre.

Amém!

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